Era uma vez duas amigas, que se conheceram no cursinho. Ela se divertiram muito nessa época com as aulas cabuladas, a galera no bar tocando violão, um ou outro mocinho interessante que aparecia e etc.
Ai, meu, muito comprida esta versão, vamos resumir: uma das meninas, obviamente, sou eu e a outra é uma amiga que podemos chamar de Jeannie, as in Jeannie in the bottle. Jeannie era engraçada, ria dela mesma, era muito popular com os meninos, inteligente, querida e- mesmo sendo linda- não julgava pelas aparências.
Jeannie era super trabalhadora, ralava desde cedo e continuou nesse crescente por muitos anos. Ela estava lá quando conheci meu primeiro namorado, eu estava lá para ouvri que ela foi internada por que tomou remédios demais pela decepção com o primeiro dela. Eu também estava lá quando ela terminou com outro amor e estava com medo de ficar sozinha e fazer besteira.
Um dia encontrou um amo e senhor e se casou com ele- eu estava lá. Eu sempre me dei bem com ele, e ele sempre foi muito legal com Jeannie.
Um dia, Jeannie decidiu que queria ser mãe, engravidou e, infelizmente teve uma gravidez muito complicada e ficou internada em repouso absoluto por alguns dias. Eu fui visitá-la no hospital e cuidei dela e, qdo os bebês morreram, eu sofri junto e sempre estive lá.
Poucos meses depois, ela engravidou e eles nos escolheram como padrinhos (eu e meu marido, na época namorado). Meu amor estranhou, disse que estava lisonejado mas que eles ainda não o conheciam muito bem. Eles disseram que era exatamente esse nosso jeito reservado que os agradava, que queriam padrinhos amorosos mas que não ficassem invadindo a vida da criança. Aceitamos e nossa afilhada nasceu, muito fofa. Eu estava lá, no parto, esperando com a família.
Jeannie engravidou de novo e de novo pois, mesmo que todas as suas gestações fossem de risco, seu amo queria uma família grande. Sempre estivemos por perto.
No meio do caminho, já casada e mais madura, comecei a perceber que Jeannie nunca tinha a gentileza de pegar o telefone e me ligar para saber como eu estava na nova vida- que não é fácil no começo.
E não foi por falta de tempo pois, a esta altura, Jeannie já não trabalhava mais e tinha uma babá e uma empregada.
Um dia nós discutimos, e Jeannie disse que eu nem ligava para a filha dela, e que tinha se arrependido de ter nos escolhido como padrinhos (ué, não era exatamente pelo nosso jeito tranquilo que fomos escolhidos). Ela se desculpou mas, posso falar? nunca esqueci as palavras dela e tudo mudou.
Não pense que éramos ausentes: íamos a todas as festas de todos os filhos, passávamos lá no Natal para entregar presentinhos e nos encontrávamos esporadicamente.
O que acontece é que nossa vida era mais corrida. Eu, sempre ás voltas com mil cursos e atividades, trabalhando e tentando me estabilizar, nem sempre tinha tempo para ligar e, com o passar do tempo, parei de ter paciência com o chororô e a posição de vítima que ela adotava.
Acho que ela nunca parou pra pensar que, se quiséssemos viver para o filho de alguém, já teríamos tido os nossos.
Ela admitiu que me comparava com as amigas dela, as que iam passar a tarde na casa dela fazendo decoupage, scrapbook e outros artesanatos que passavam nos programas da tarde (juro, não é modo de dizer)- isso nunca teve NADA a ver comigo.
Pouco a pouco ela foi parando até de ter um mínimo de educação ou cordialidade, e nem ligar no meu aniversário ela ligava mais.
Se não fosse pela afilhada, já teria me desvinculado da Amelia fútil que minha amiga se tornara, pois até a fazer comentários maldosos das próprias amigas ela começou- e depois as tratava como se nada tivesse acontecido. Me desiludi total, né? Quem era essa? O que restava nela para eu admirar, ela que já havia sido tão especial aos meus olhos?
Um belo dia, já estremecidas mas sem nada declarado- passei no prédio dela para deixar ovos de Páscoa para as crianças. Foi aí que o porteiro me avisou que ela não morava mais lá, que havia se mudado para o prédio da frente há alguns meses!!!!!!
Ela, que adorava encher a boca para reclamar da má amiga que eu era, se superou na hipocrisia. Atravessei a rua e deixei os ovos na portaria.
Vocês acham que ela me ligou se desculpando ou explicando essa atitude escrota? Nunca.
Parei de contar minhas coisas para ela também, não tinha mais vontade. Cogitei seriamente abrir mão da menina, que merecia padrinhos mais moldados ao "freak show Ilha de Caras" que se tornara a vida dela, mas achei que a menina não tinha culpa, que, quando crescesse, nós poderíamos nos falar mais e que talvez ela precisasse de alguém mais "mundo real" por perto.
Fui em outra festinha de aniversário e ela nem tocou no assunto da mudança, e me tratou super bem- meu marido até elogiou, mas ele não a conhecia tão bem para perceber que aquilo não era afeto, era verniz e os sorrisos eram de plástico.
A vida continuou. Me mudei há mais de um ano e ela nem desconfia. Mil coisas legais aconteceram comigo e ela nem sabe. Sempre acho que minha vida é preciosa, e que só devo dividí-la com quem merece. Não nos falamos nunca mais, exceto quando mandei mensagem de aniversário para ela- ela continuou esquecendo o meu aniversário e tudo mais.
Ontem foi aniversário da nossa afilhada. Sem o menor saco para telefonar, decidi deixar um scrap para ela no orkut para a gente marcar algo (em consideração à menina, pq por mim...). No que entrei, comecei a ler várias mensagens de pessoas dizendo que a festa da minha filhada estava linda. OI? A FESTA JÁ FOI E ELA NEM CHAMOU OS PADRINHOS! E eu me sentindo mal por não telefonar...
Deixei um scrap de lavar a alma, do tipo para bom entendedor:
"Jeannie, perdi seu telefone mas queria deixar nossos parabéns para V. e nossos desejos de que ela seja sempre feliz. Li que a festa dela foi ótima. Que bom, ela merece."
Meu, depois de muitos anos ela não tinha mais como posar de boa amiga injustiçada, ela teria que perceber que pisou na bola, que foi má amiga, mal educada e hipócrita. Se ela não queria mais que eu fosse madrinha da filha dela, eu super entenderia, porque ela não foi sincera? Agora ela teria que se posicionar, que se pronunciar e assumir algumas coisas, teria que sair da zona de conforto dela.
Sabem o que ela fez, amiguinhos persistentes e curiosos que estão lendo até agora esse desabafo?
ME REMOVEU DA LISTA DE AMIGOS DO ORKUT E TRANCOU OS SCRAPS!
Hahahahahahaahahahhaahahahahah, sério, como a vida fica fácil quando as pessoas se superam na baixeza e covardia!
Não dá nem pra sentir remorso, só lamento pela pequena princesinha de Caras- uma menina de 6 anos que, há uns 2, está sempre de chapinha e maquiagem nas fotos.
Desejo que, um dia, ela consiga ter personalidade e conteúdo, e que viva uma vida real, maravilhosa e imperfeita. Que seja cercada de amigos de verdade. Que saiba reconhecer que as verdadeiros amigas são as que te ajudam a não tentar se matar de novo, a fazer xixi quando você está de repouso no hospital, que seguram sua mão quando você perde seus bebês, que te ligam pra te tirar da escuridão, que ficam com você nas horas mais difíceis e que sempre tentam te fazer bem, e não as que tem a tarde livre, o marido rico e a risada desbotada.