domingo, 9 de janeiro de 2011

Pelo direito de virar cinzas



Fato: sou uma pessoa extrovertida. Sou alegre, adoro rir, brincar com as pessoas, ouvir música, conversar, sair, passear, sou falante e pra cima.

Mas não deixo de ter uma essência introspetctiva: adoro ficar quieta, pensar, analisar, pesquisar, ler, refletir sobre as coisas, estudar, focar, sentir... E quando acontecem coisas marcantes na minha vida, essa característica se acentua- principalmente quando esses acontecimentos são fins de ciclos, transições, perdas e decepções. Aí é que realmente sinto mais vontade de ficar comigo, pensar, sentir, expurgar, chorar, esvaziar tudo o que tem de ser esvaziado, fazer as demolições e limpezas de terreno para construir tudo de novo de uma maneira mais sólida.

O problema é que, nesse mundo, querer introspecção é pedir muito, é luxo. Se você não está muito afim de fazer nada, se quer mais é ficar quieta e se voltar pra dentro, é como se estivesse doente, sabe?

No final do ano passado foi assim: tudo o que eu queria era ficar na minha, exorcizar uns demônios internos, jogar fora umas coisas que não posso mais usar (metaforicamente falando) e me fechar para poder me abrir. Só que me vi em uma espiral de acontecimentos sociais e familiares dos quais, mesmo não estando minimamente disposta - não pude escapar. Festas de fim de ano, Natal, compras, reuniões, um monte de atividades que exigiram muito de mim. Até uma viagem acabei sendo forçada a fazer - e digo forçada porque é super complicado dizer não e fazer só a sua vontade quando se é casada e inserida em todo um contexto cheio de gente.

O resultado é que hoje, dia 09 de janeiro, estou com uma super gripe, me sentindo velha e cansada, sem energia nenhuma para nada. Quando leio algo como "Voltando das férias energizada e com as baterias recarregadas, pronta para começar 2011 com força total", sinto uma inveja! Inimaginável essa sensação.

Só me sinto sem energia, esgotada, querendo dormir, ler, pensar, me reorganizar emocionalmente, praticar a espiritualidade e a contemplação.

Estou Yin.

Não consigo sentir aquele pique, sabe? Vontade de treinar, correr, nadar (e nem posso, sob ordem médica, por causa da lombar), agitar, sair, fazer os contatos que preciso fazer, fazer o mundo girar- e não, não estou doente ou deprimida, apenas acho que é parte natural de todo processo "fechar para balanço" antes de reabrir.

Quando você passa por muita coisa muito intensa, uma hora "o sistema" não aguenta, entra em curto.

Não falo de surto, crise, colapso ou um grande problema. Só falo da simples ação de digerir, sabe? De renovar. De "invernar". De viver o término totalmente para poder recomeçar.

E é pedir muito nesse mundo voltado pra fora, sempre pra fora (não é uma crítica a quem é assim, só um desabafo de quem só quer poder ser diferente em paz.)

E me desculpem o exemplo batido, sei que Fênix virou coisa meio que tatuagem de pitboy que viu Harry Potter e achou bemloko essa coisa de renascimento, mas até parece que no Mito a Fênix foi pra balada e renasceu, né?

Me deixem virar cinzas, só isso! Pequenas mortes são necessárias para a vida continuar, sabe?

Parem de me tirar da concha, de exigir grandes gestos e movimentos - aliás, ultimamente, até os pequenos gestos estão gastando minha energia, então parem de me exigir qualquer coisa: só me dêem uns 5 dias de sumiço, de quietude, de "antisociabilidade"!

Tá tudo bem, prometo, sou normal. Não estou triste ou derrotada, só preciso me recuperar de tudo o que aconteceu. Deixar que as feridas criem casquinha, sabe?

Porque se eu não virar cinza, não renasço...


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