terça-feira, 18 de janeiro de 2011

Livro bom, memória ruim

Esses dias tava falando de livros com uma amiga, e lembrei de um livro que li na minha adolescência, emprestado da biblioteca.
Falava sobre decepções no final da adolescência/início da vida adulta, sobre a vida dura nas faculdades. Aqueles enredos em que você ri dos absurdos e acha tudo muito exagerado e irreal - mas no fim percebe que é perfeitamente possível existir gente assim. Uma coisa meio Gossip Girl.
O protagonista era gatinho e gente boa, tinha uma família legal, carisma e bons valores - mas se equivocou na hora de fazer amizades e acabou se ferrando até descobrir com quem estava lidando.
Conhece uma galera legal, do tipo que parece curtir a vida, se divertir e ter tanto tempo livre quanto ele - que era sustentado pelos pais e não precisava trabalhar. Ele e a galera super se afinaram e, por anos, correu tudo às mil maravilhas. (Atenção, spoiler) De repente, numa reviravolta, a galera surta e ele passa a ser pintado como o verdadeiro vilão. A relação com a galerinha vazia acaba, e ele volta a dar importância ao que realmente importa, volta a ser feliz, cresce, amadurece, vira um profissional bem- sucedido e se acerta com o amor da sua vida, que sempre avisou que aquele povo era uma cilada-bino.
Final feliz e aguinha com açucar.
Mas o que me pegou na época, foi a complexidade dos personagens, bem mais verossímeis do que os lindos, ricos e estereotipados "capitão do time de futebol e cheerleader". Eles eram uma mistura de Gossip Girl com pessoas normais, como eu e você - mas eram loucos e mal resolvidos como ninguém.
Tinha o garoto complexado e carente, de família pobre. O que sempre ia com quem é mais rico e oferece mais coisas. O que o protagonista ajudou com um dinheiro que nem tinha quando ele estava tão fodido que até cogitava se matar, e que virou as costas para ele lindamente, só para não contrariar a galera. Esse pecou por omissão, por virar as costas quando mais se precisava dele, por sempre preferir quem podia dar a ele a ilusão e o gostinho de uma vida diferente da que ele levav.
Tinha o garoto mimado, imaturo, covarde e interesseiro, aquele que é um bosta, sabe? Gordinho, mal resolvido consigo, com a família, com os estudos... Do tipo que vai com quem dava mais dinheiro. Numa passagem do livro, confessou que estava puto por ser chamado de interesseiro pela colega louca, mas que ia esperar um pouco para tirar satisfações, esperar até a viagem para a mansão dela em Malibu. Este era uó: passou a falar mal do protagonista horrivelmente quando a batata dele começou a assar - sendo que o nosso mocinho nunca falou ou fez nada de mal a ele, muito pelo contrário. Cuzão, sabe? Putinha, com o perdão da má palavra.
Tinha a frustrada profissional, uma Shar Pei do High School Musical piorada, que passou a vida tentando ser alguém, mas nunca conseguia sair da sombra dos pais famosos. A que se vestia cada dia de um jeito e que se adaptava ao que estava bombando no momento para tentar alcançar alguma notoriedade pois, se dependesse do seu pouco talento...Falava mal de tudo e de todos, e dizia fingir ser amiga da louca principal (logo vou falar dela) só por medo do que ela podia fazer se a amizade acabasse. Dessa personagem eu garrei ódio, foi muito bem escrita: frustrada, recalcada, vítima, agressiva como poucas, a própria Erva Venenosa da música, me deu calafrios. Essa nunca será, pois tem medo de ser. Tudo em sua vida era de isopor, não era plena em nada. Mas era boa atriz, enganava bem e até nosso protagonista bem que caiu na dela.
Tinha o moleque porco, sabe, o que achava engraçado ser fedido, louco, beberrão: um traste. Esse tinha algum talento, mas não nos relacionamentos (inclusive com a família). Fodão e bully de longe, mas do tipo que nem consegue olhar no olho de perto. Gritava impropérios no meio da multidão, mas não tinha culhão de falar nada na cara. Aliás, nenhum deles jamais teve qualquer conversa ou confronto com o protagonista. Foi tudo bem insano, de um dia para o outro, sem aviso e sem motivo palpável.
Tinham as rednecks, as coadjuvantes feiosas que faziam tudo para serem aceitas pelas luzes da cidade grande. Uma ao melhor estilo Mulher Solteira Procura, se enfiava na vida das pessoas sem dignidade ou vergonha na cara, limpando até o chão para ser aceita. A outra, uma louca perdida e infantil, do tipo que conseguia ser a palmeirense mais fanática para, dias depois, amar o Corinthians mais que tudo e ir contra tudo o que dizia acreditar
E, claro, tem a louca principal, a moça doente mental e sofredora. Entupida de remédios, não conseguia lidar com luz e adorava conviver com os chupins. Até rolou um início de amor sincero com o protagonista, meio fraternal, e a gente quase acredita que ela ia se regenerar, mas não teve jeito: a moça era tão irrecuperável quanto destrutiva e maria-vai-com-as-outras. Louca, infeliz, complexada, só não deu para ter mais pena porque ela tentou destruir tudo o que o mocinho do filme tinha construído com um afã que deu nojo.
Era o Bonde dos Vida de Bosta. Que nada construíam, que não eram felizes com nada do que tem. Saiam lindos no álbum anual do colégio mas, quando o flash se apagava, voltavam a ser ocos e a falar um do outro pelas costas.
O mais foda é que a maioria deles percebeu que o protagonista era diferente, e até começaram a se abrir com ele, a parecerem reais e humanos quando estavam a sós. E falavam cada coisa mesquinha! Justiça seja feita, o protagonista sempre tentou tirar o melhor de cada um e não encorajar essas atitudes, mas luz na treva não dura muito, né?
Enfim, adorei o livro: super complexo, real, atual e bem escrito. Nada de "o bem vence o mal": tudo ficou na mesma. Não houve aquele grande momento da desforra ou qualquer confronto. Ele só seguiu com sua vida e todos também. Simples assim. O que lavava a alma eram as fofoquinhas sórdidas que um fazia do outro e a pequeneza da vida da galere.
Se eu lembrasse o nome, até recomendava. Mas nem me lembro mais :)

Nenhum comentário: