quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

Dor agridoce


Estava dormindo e ouvi um barulho. Entrei naquele estágio do sono confuso e delicioso, onde você está com alguns sentidos em alerta mas ainda está meio dormindo, meio sonhando.
E foi aí que ouvi o barulho familiar: passos de chinelo, cuidadosos,se arrastando até a porta do quarto, abrindo a porta, saindo para o corredor e fechando a porta cuidadosamente, para não fazer barulho.
Meio que sorri por dentro, sentindo uma ternura sem fim por minha mãe e seu cuidado para não me acordar. Pensi que ela já estava indo fazer seu café.

Foi aí que saí desse estado, meio assustada/ surpresa ao perceber que os passos não eram dela, e sim do meu marido- igualmente cuidadoso comigo. E meu coração se apertou. Não por nada, já que sou muito feliz aqui com ele e minha mãe está viva e cheia de saúde- e mora há uns 15 minutos de mim. Mas por que o tempo passa rápido, certas rotinas já não existem mais, e algumas partes da gente ainda são criança, sentem como criança, como a filha, a menina.

Uma dor agridoce.

Acho que tem a ver com Natal, que Natal é meio isso, uma alegria melancólica- ou uma melancolia alegre? Natal é conversar com um velhinho na fila da padaria e lutar pra não chorar porque ele faz lembrar sua avó.

Natal é lembrar do seu avô que fazia propagandas de Panetonne na Tv. É ir procurar no Youtube e não achar nada, não achar rastro, o registro se foi como ele se foi.

É não ver ou viver mais aquilo, mas sentir tão nítido no coração que até dói.
É ser feliz pelo que se tem, mas sentir falta do que já se foi.