segunda-feira, 9 de julho de 2012

Mulher não pode gostar de ler

 Olha, difícil ser mulher num mundo implicante, viu? Queria entender porque homens se incomodam tanto com os livros que as mulheres estão gostando de ler: seriam os nossos romances equivalentes às Playboys deles, que geram tanta ciumeira nas namoradas mais sensíveis?
Não me lembro como eram as críticas nos anos 80, mas me parece que as coisas eram melhores naquela época, me parece que hoje somos mais preconceituosos, que regredimos. Naquela época, todas as mulheres, mães e até avós liam aqueles romances de banca de jornal, os famosos "Sabrina", lembra? Era também a época áurea de Sidney Sheldon, e as histórias eram estilo "a herdeira e o rude filho do cavalariço se conhecem, brigam, sentem uma atração irresistível, se amam, brigam, se amam e ficam juntos" - e tudo com detalhes tórridos. E os julgamentos mal ocorriam, era normal uma mulher querer ler algo assim.

      

Vinte anos depois, chegou a vez das Chicklits, a denominada "Literatura Mulherzinha", e que rótulo preconceituoso, não? Ao invés de enxergarem uma evolução no fato das leitoras começarem a dar mais valor à mulheres comuns ao invés das heroínas idealizadas, colocam esse nome pejorativo, levando pouco a sério um gênero divertido, despretensioso e que traz mulheres reais. As mocinhas de livros como "Melancia", "Delírios de consumo de Becky Bloom", "O Diabo veste Prada" e "Tamanho 42 não é gorda" levam pé na bunda, têm problemas com o cartão de crédito, lidam com gente difícil no trabalho e precisam construir a autoestima num mundo padronizado. Acima de tudo, são mulheres que tem mais o que fazer do que ficar esperando o filho do cavalariço passar embaixo da janela (será que estou sendo preconceituosa também? Ah, sempre impliquei com essas historinhas que reduzem a vida da mulher a uma relação amorosa). E, mesmo com esses avanços e com essa proximidade com a realidade de todas nós, denominam o gênero de Literatura Mulherzinha, assim, bem inha, bem pejorativo.

     

Me lembrei agora de uma cena de um filme - não vou me lembrar qual é - em que amigas frequentam um Clube do Livro e, quando o livro escolhido é algum de Jane Eyre, uma das mulheres compra uma capa falsa de algum clássico sério, tipo "Anna Karenina", para ler no metrô sem ser julgada. Seria bem mais engraçado se não fosse real. Porque aí, vieram duas sagas fenômeno de vendas que eu adorei ler, e começou a "Caça às Bruxas" moderna. Me refiro à sagas "Crepúsculo" e "Fifty Shades", essa chegando no Brasil agora.


                                            

Aqui eu me permito fazer uma pausa defensiva e autobiográfica: sou Psicóloga. Por 5 anos, li as coisas mais complexas, profundas e filosóficas que você pode imaginar - sem contar os dois da Especialização e outros dois de preparação para o Mestrado. Algo irreversível deve ter rolado em minha mente nessa época e, desde então, só consigo ler livros despretensiosos e envolventes, que não exigem o mínimo esforço. Cabe também dizer que não me considero romântica, não idealizo os homens, sou casada há um tempão e extremamente satisfeita e apaixonada pelo meu marido.                          
Mas, voltando: o que a mídia ridiculariza e ofende quem curte esses livros não é brincadeira! A gente acaba sentindo vergonha de gostar de ler esses livros, e quase faz como a personagem do filme que citei, comprando capas fake e "cabeça" para esconder que está lendo romances despretensiosos. Reduz todo mundo que gosta de ler à meninas virgens e sonhadoras ou a mulheres de meia-idade frustradas com seu casamento. Juro, não é exagero! Do Crepúsculo, não preciso nem falar, vocês já leram coisas do tipo, mas o mesmo está ocorrendo com "Fifty Shades", o novo fenômeno da literatura que já bateu "Harry Potter" e "O Código DaVinci" no Reino Unido. Citando a matéria da Galileu, provavelmente traduzida de algum site especializado:  "...o sucesso estrondoso dos livros se deve ao seu público-alvo: mulheres de meia idade, frustradas com seus casamentos. ". Aff! Então, se você gosta de ler esses livros bem escritos e altamente viciantes, isso faz de você uma frustrada que sonha com um vampiro semivirgem e excessivamente meloso ou com um multimilionário problemático e possessivo ao extremo? Jesuix, que generalização mais rasa, hein, críticos? Psicologia de botequim perde.
Só queria entender porque o fato de mulheres lendo Romances fantasiosos é considerado pejorativo, enquanto o mundo considera super normal os homens adorarem HQ e serem alucinados por filmes como "Batman", "Transformers", "Homem-Aranha" e etc.
Dois pesos, duas medidas...